domingo, 8 de janeiro de 2012

Castelo de Leiria

Não existem informações seguras acerca da primitiva ocupação humana do sítio do castelo, embora a região de Leiria seja rica em testemunhos arqueológicos pré-históricos e romanos. Apenas se sabe que antes da construção do mesmo poderá ter existido uma ermida e uma alcáçova no local. No entanto é do conhecimento que à época da Reconquista cristã da península Ibérica, a região constituía, no século XII, um ponto nevrálgico da defesa da fronteira sul do Condado Portucalense. Viria a tornar-se um próspero centro económico medieval, graças ao comércio de cereais e produtos alimentares (trigo, azeite, vinho, frutas), de madeiras (pinhal de Leiria), de minérios (ferro, carvão, sal-gema, calcário) e de produtos artesanais (lanifícios e tecelagens, couros, olarias, ferragens).
Os estudiosos atribuem a atual configuração do Castelo de Leiria à soma de de quatro grandes períodos construtivos:
  • o Românico do século XII;
  • o Gótico dionisino, da primeira metade do século XIV;
  • o Gótico joanino, de inícios do século XV, e
  • as correntes restauradoras de finais do século XIX e primeira metade do século XX.
Algumas das intervenções promovidas por Korrodi foram posteriormente desfeitas, considerando-se que o seu projecto pecava por excesso de romantismo, sem respeitar o real perfil (original) do monumento. Prova disso serão as falsas ruínas que ainda existem no pátio interior e perto da porta da traição.
O castelo apresenta planta poligonal irregular, marcada pela solidez de seu sistema defensivo (muros e torres) no interior do qual se destacam o Paço Real, a Igreja de Santa Maria da Pena e a Torre de Menagem. Defendida externamente por uma barbacã, a cerca é reforçada por torreões de planta quadrangular, a intervalos regulares. Nesta cerca se rasgam duas portas: a Porta do Sol, a sul, onde hoje está a Torre da Sé, e a Porta dos Castelinhos, a norte, flanqueada por duas torres. Ultrapassando-se a Porta do Sol ingressa-se em um largo onde se encontram algumas edificações, o antigo Paço Episcopal (hoje sede da PSP) e a Capela de São Pedro. Subindo por uma rampa, ao longo da cerca da vila, acede-se à entrada do castelo, pela Porta da Albacara, em arco de volta redonda sob uma torre rematada por merlões chanfrados e rasgada por frestões, que funcionou como torre sineira da vizinha Igreja de Nossa Senhora da Pena.
As muralhas do castelo são rematadas por merlões quadrangulares, estando reforçadas no seu trecho mais vulnerável (onde o declive do terreno não é tão acentuado) por uma barbacã, seguida por uma cerca avançada, a norte e a leste. Pelo lado oeste, rasga-se a chamada Porta da Traição, em arco quebrado. O reduto interno, envolvido por cinta de muralhas, encontra-se disposto numa plataforma mais elevada a noroeste, e é dominado pela Torre de Menagem.
As principais estruturas do castelo podem ser descritas sucintamente:
  1. Porta da Albacara (recolha de gado, em árabe), em estilo românico, em cotovelo conforme o uso muçulmano. No embasamento das torres que a defendem, encontram-se algumas lápides com inscrições romanas, oriundas da antiga "civitas" de Collippo, que existiu a perto da Barreira - na verdade grande parte do castelo foi construído com as pedras da civita, não restando nada desta ao não ser as pedras para aqui transladadas.
  2. Casa da Guarda, conjunto erguido à época dos trabalhos de restauro iniciados em 1915, conforme projecto de original de Korrodi. No seu alpendre figuram algumas colunas e mísulas tardo-góticas oriundas do claustro do antigo Convento de Santa Ana de Leiria (1494-c. 1917-1920), das monjas da Ordem de São Domingos.
  3. Torre dos Sinos, porta de acesso ao primitivo recinto fortificado, de forma pentagonal e com arcadas românicas e aduelas contendo sinais cruciformes orbiculares ou templários. No século XIII foi adaptada como torre sineira da vizinha Igreja de Santa Maria da Pena, quando foram rasgadas novas janelas em estilo gótico. Foi também denominada, à época medieval, como Torre da Buçaqueira, o que pode indicar que nela se abrigariam os falcões usados pela realeza em suas caçadas.
  4. Igreja de Santa Maria da Pena, evolução do primeiro templo de Leiria, a capela casteleira de Nossa Senhora da Pena. Tem uma única nave rectangular, com uma nave e capela-mor em estilo gótico, acedida lateralmente por um portal ogival de cinco arquivoltas apoiadas em colunas lisas. A ábside poligonal revela cobertura de abóbadas nervuradas de 7 panos. Os panos laterais da capela-mor são rasgados por frestas ogivais de dois lumes, encimadas por quadrifólios. Foi utilizada como capela palaciana pela Dinastia de Avis. No coro podemos mesmo ver uma pedra romana de Collipo, dedicada ao imperador Antonino Augusto Pio, e saindo pela sacristia manuelina temos acesso às ruínas.
  5. Ruínas da Colegiada dos cónegos e clérigos crúzios de Leiria. Local de interesse arqueológico, aqui existiam sala de audiências, celas e dormitórios, refeitório, cozinha, pátio, cumuas e cisterna que atendiam aos religiosos e serviam a Igreja da Pena.
  6. Paços Novos, Paços do Castelo, ou Paços Reais, com planta quadrangular, nas dimensões de 33 m x 21 m. É constituído por torres laterais de 4 pisos e um corpo central de 3. No pavimento inferior, encontra-se um amplo salão com três robustos arcos góticos (Salão dos Arcos), enquanto no segundo piso dois salões menores serviam ao dia-a-dia do palácio (cozinha, adega, dormitório). No terceiro pavimento, os quartos régios situam-se nos extremos, divididos pelo Salão Nobre (Salão das Audiências) que abria para uma galeria ou loggia de arcaria gótica mediterrânica de onde se pode usufruir de uma bela paisagem sobre a cidade. Dois corpos que o flanqueiam constituem um quarto piso, que tinha o seu interior repartido por, à época, luxuosas instalações sanitárias.
  7. Pátio Interior, de interesse histórico e arquitectónico é testemunho das políticas de restauro do monumento no século XX, com destaque para as opções pela falsa ruína e pelo trabalho intencionalmente inacabado.
  8. Celeiros Medievais, conjunto de três celeiros datáveis do século XIII, abobadados em alvenaria, que deveriam ser primitivamente rematados por construção em madeira e taipa, hoje desaparecida.
  9. Porta da Traição e Falsas Ruínas, rasgada num pano da muralha a oeste quase que integralmente restaurado na década de 1930, assinala o sítio da porta original, onde se crê terem entrado os Muçulmanos numa das tomadas ao castelo. Observam-se também falsas ruínas características das opções de restauro do monumento entre a década de 1930 e a de 1950.
  10. Torre de Menagem, de planta prismática, elevando-se a 17 metros de altura (alguns adicionados durante a sua reconstrução), divide-se internamente em três pavimentos encimados por terraço e coroada por merlões quadrangulares. Mandada executar sobre os alicerces de uma torre anterior por D. Dinis, uma lápide epigráfica gótica, com os brasões reais inscritos, assinala tal facto no lado esquerdo junto à porta. Foi utilizada como prisão régia desde meados do século XIV, estando activa, ainda, na segunda metade do século XVIII. No recinto, persistem vestígios arruinados de obras do século XV. Actualmente está patente um núcleo museológico no seu interior.
  11. Torre Sineira da Sé, em estilo barroco, ergue-se sobre uma das antigas torres medievais da Porta do Sol. Por volta de 1546, procedeu-se ao seu alargamento e reforma, e aproveitou-se a porta do castelo para instalar a casa do sineiro. Posteriormente, durante o episcopado de D. Miguel de Bulhões (1761-1779) adquiriu a forma actual apresentando no coruchéu o brasão deste bispo. Comporta seis sinos fabricados, em 1800, pelo mestre-fundidor João Craveiro de Faria. É quadrangular e no topo é constituída por uma pirâmide, tendo no topo um anjo como cata-vento. Em tempos funcionou como prisão e ao lado era a polícia.
  12. Portas do Norte, ou dos Castelinhos, marcam o início das muralhas românicas de Leiria que envolviam um perímetro de cerca de 5 hectares para Norte e Este. Anteriores a 1152, davam acesso à desaparecida igreja paroquial de Santiago e à Ponte Coimbrã. São compostas por duas quadrigas de vigia e uma barbacã em cujo pórtico se inscreve um dos brasões mais antigos do concelho de Leiria (século XIV), no qual se observa, em torno de um castelo, dois pinheiros encimados por corvos, simbolizando a lenda da fundação de Leiria por D. Afonso Henriques.
  13. Antigo Paço Episcopal, hoje ocupado pela PSP, constitui um significativo exemplar da arquitectura solarenga portuguesa do século XVII, destacando-se o portal e a janela nobre sobreposta. Ergue-se no sítio dos antigos Paços Régios de São Simão onde residiram, entre outros, D. Afonso III, D. Dinis, a Rainha Santa Isabel e D. Fernando. Foi neste local onde ocorreram as Cortes de 1254.
  14. Igreja de São Pedro, em estilo românico coimbrão (cabeceira) e meridional (pórtico), foi edificado em calcário e alvenaria, apresentando figurações escultóricas românicas ao nível dos cachorros e dos frisos decorativos das arquivoltas. Chegou a ser a segunda catedral de Leiria (c. 1548-1574) e, no século XIX, utilizado como sala de teatro. Também chegou a ser utilizada como celeiro.

 
(in: pt.wikipedia.org)



























































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